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Por: Renata Valentim/Jornalismo Light FM* | Foto: Walter Firmo/Reprodução

Sucesso de público na capital mineira, a exposição “Walter Firmo: No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito”, foi prorrogada e segue até o dia 02 de outubro no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH). A mostra, que já recebeu mais de 100 mil visitantes, apresenta um panorama dos mais de 70 anos de carreira do fotógrafo Walter Firmo. Nascido no Rio de Janeiro, o artista é um dos principais nomes da fotografia brasileira. A exposição apresenta duas centenas de fotos, produzidas desde o início da carreira de Firmo, em 1950, até 2021.

As imagens que integram a mostra retratam e exaltam a população e a cultura negras de diversas regiões do país, em ritos, festas populares e religiosas, além de cenas cotidianas. As fotografias apresentadas registram a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas, com destaque para ensaios aclamados, como do maestro Pixinguinha na cadeira de balanço e a série com o artista Arthur Bispo do Rosário.

Resultante de uma parceria entre o CCBB e o Instituto Moreira Salles (IMS), a exposição “Walter Firmo: No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito” estreou em São Paulo, no IMS Paulista, passou pelas cidades do Rio de Janeiro e Brasília, com patrocínio do Banco do Brasil, e chegou à capital mineira no dia 12 de julho. As imagens da mostra comprovam a opção do fotógrafo pela figura humana, especialmente pela pele negra, que aparece em todas as matizes, tanto nas fotos coloridas quanto nas imagens em preto e branco.

Dividida em núcleos temáticos, a mostra traz retratos memoráveis de grandes nomes da música brasileira, como Cartola, Clementina de Jesus, Dona Yvone Lara e Pixinguinha, além de imagens de brasileiros e brasileiras anônimos(as), pescadores, vendedores ambulantes, mães de santo, brincantes, casais, noivas, crianças e até a própria família do artista. A exposição lança luz ainda à importante trajetória de Firmo como fotojornalista. Um dos destaques é a seção dedicada à fotografia em preto e branco do artista, pouco conhecida e, em grande parte, inédita.

A exposição é uma oportunidade para o público conhecer em profundidade a obra de um dos maiores fotógrafos brasileiros, que mantém até hoje seu compromisso com o fazer artístico: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais”, conclui Walter Firmo.

A EXPOSIÇÃO

“Walter Firmo: No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito” está dividida em cinco núcleos temáticos: Abertura/Negritude; Subúrbio e Periferia/Retratos; Encantamentos e Experimentações/Diáspora; Cronologia /Início de Carreira; Preto e Branco.

No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores, de grande formato, produzidas ao longo de toda a sua carreira. Há fotos feitas em Salvador (BA), como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados (2002); em Cachoeira (BA), como o retrato da Mãe Filhinha (1904-2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra (ES), onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928-2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.

O segundo núcleo – Encantamentos e Experimentações – apresenta a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Também há fotografias feitas para a reportagem “100 Dias na Amazônia de Ninguém”, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem.

Nas seções seguintes, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. Isso fica evidente no ensaio realizado em 1985 com seus pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e seus filhos (Eduardo e Aloísio Firmo), no qual José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval, função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa um vestido longo, florido e elegante. O ensaio faz alusão às pinturas “Os Noivos” (1937) e “Família do Fuzileiro Naval” (1935), do artista Alberto da Veiga Guignard (1896-1962).

Como destaque, a exposição apresenta retratos de músicos produzidos por Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque. Nesse conjunto, está também a famosa série de fotografias de Pixinguinha feita em 1967, quando Firmo acompanhou o jornalista Muniz Sodré em uma pauta na casa do compositor. Após o término da conversa, o fotógrafo pegou uma cadeira de balanço que ficava na sala da residência, colocou no quintal, ao lado de uma mangueira, e propôs que Pixinguinha se sentasse nela com o saxofone no colo. Assim registrou o músico, em uma série de imagens que se tornaram icônicas.

A exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário para a revista IstoÉ, em 1985, feitas na antiga Colônia Juliano Moreira, onde Bispo ficou confinado e criou seu acervo ao longo de cerca de 25 anos.

A retrospectiva apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos de personagens da diáspora, feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde.

Na mostra, o público poderá assistir, ainda, ao curta-metragem “Pequena África” (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia e que trata da história da região que recebeu milhões de africanos escravizados. Também há um núcleo dedicado à fotografia em preto e branco, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita, cujo destaque é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000.

SERVIÇO

Walter Firmo: No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito

Data: Até 02 de outubro de 2023

Local: Galerias do Térreo – Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários).

Horários de visitação: de quarta a segunda, das 10h às 22h.

Ingressos gratuitos, retirados pelo site bb.com.br/cultura ou na bilheteria física do CCBB.

Classificação Indicativa: Livre

(Com informações do CCBB BH)